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Aqui a poesia é amadora. A música e a fotografia, amadoras. Tudo dentro deste peito é amador.

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domingo, 12 de outubro de 2025

Sobre dozes de outubro, coragem e botões




 De certo fui eu que perdi a Kodak Instamatic Flash Cube de botão disparador laranja, essa foto aí foi tirada com ela, como todas as outras da infância. O flash parecia um cubo de gelo, a brecha perfeita para brincar. Já procurei em tantos lugares uma igual... Nada. 


De repente me veio que o que eu buscava mesmo era o botão laranja. A falta do flash que se perdeu primeiro só deixou as imagens mais bonitas. Porque é isso que procuramos depois que crescemos, o botão laranja da inocência corajosa: vai, pode ir, é seguro ser você sem artifícios, é seguro sorrir, 1, 2, 3, xis e click


Entendi que não precisamos mais sentir culpa por aceitar a severidade em lugares onde ela não cabia, que o botão laranja agora é dentro, a coragem alegre de ser a imagem fiel da espontaneidade. 


A severidade é prática, mas para os dentes, não escova pra ver! É boa para atravessar uma rua, para não brincar com facas afiadas ou com os sentimentos do outro. Pode ser boa para antes de algumas escolhas. Em outras, já nem se parecem com escolhas, são sorrisinhos mornos bem dentro, lugar comum que só se atravessa. 


Botões laranjas servem para quando nos esquecemos de atravessar. 


Na foto, o Opala do meu pai (que adoeci quando foi vendido e estrela da foto?), a ladeirinha de paralelepípedo da casa da minha avó materna em Itatiba (linda cidade), a Flamboyant que ainda não havia florido e eu florida de mim. Click.

sábado, 12 de outubro de 2019

Uma forma de lembrar de você


Hoje à tarde, acompanhei minha mãe ao médico, na volta, depois de furtamos umas mudas de plantas sobrando pelos muros, passamos por um Sebo e logo pensei em você, Wend. 

Entramos. Dezenas de estantes altas e cheias. Falei gesticulando largamente com os braços: ele deve ter todos eles, mãe. Minha mãe riu e fez aquela cara de “os amigos da minha filha”, sabe? Depois de vasculhar bastante, e confesso, bastante perdida, fui para a letra A de Adélia, o que era você virou eu, ou para mim, mas que era você. Nada de Adélia. Nenhum. Tristeza. Pressa e cansaço da mãe, 32 graus em São Paulo, seguimos sem livros. Combinei comigo de visitar um outro lugar guardado nas minhas vontades, lá haveria de ter uma poesia pra você. Mas ali mesmo no caminho, encontrei algumas. 


Tinha uma calçada arrodeada de flores amarelas caídas de um ipê já pelado, ninguém que andava por ali pisou. Ninguém. Foi tão bonito ver as pessoas se desviando para não pisar nas flores, que eu quis trazer esta calçada pra você. E parecia que o ipê me piscava exclamado: Grande! Passou até a canseira da mãe, ela ama flores e incentivamos a parada, de pelo menos, umas seis pessoas para admirar o espetáculo. Burburinhos e fofocas doces sobre a primavera… Já quase chegando em casa, a mãe pergunta: e que você vai dar pro seu amigo? - aquela calçada, mãe. - Deus do céu, fia! É cada uma!



P.S.: Quando chego em casa, aquela sua carta. Eu brigo com o mundo, mas fico sem graça. Tenho jeito pra ingratidão não. 

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Aceitando iscas

Faz um tempo, peguei mania de gravar áudios das minhas poesias favoritas e enviar para alguns amigos, acabei perdendo a mania, por desgosto. Até os poetas estavam xingando, muito. Comecei a xingar também. Alguns palavrões eu nem nunca tinha xingado. A Lu, a Recieri, acabou por me empolgar de novo, mas pelos contos poéticos. Ela me envia muitos, ela não desistiu, nem o Wend, o Wendel. Hoje ouvi alguns que ela enviou assim que acordei. Fiquei maravilhada. Levantei como quem fosse pra guerra e fui direto no Rubem Alves na estante. Gravei alguns contos e mandei para os dois. Fiquei imaginando, boba, eles ouvindo com fone de ouvido no ônibus, árvores nos canteiros das avenidas passando como filmes nas janelas... O Wend, ouviu na hora e já respondeu, foi a fome. A Lu, tava fora de área mas eu sei que anda sempre testando ingredientes, fome. Estou impressionada, e não é algo novo, como essas pessoas da poesia aguam a nossa alma e nos estimulam brotos novos, tão competentemente. Infelizmente o bruto se sobrepõe ao belo neste mundo. Mas não fossem esses doces salvamentos, nem o bruto teria mais poesia para brigar.





Fotografia | minha, quintal de casa, Bougainvillea.