.
.
.
.................................
Aqui a poesia é amadora. A música e a fotografia, amadoras. Tudo dentro deste peito é amador.

.

quarta-feira, 12 de março de 2014

A pontuação como figura e a moça que não sabe desenhar



Lição para adultos
Como poetizar crianças - módulo único-jeito-legal  (que encontrei)


Lição 1 - !

Exclamação, é o apelido exagerado que arrumaram para um senhor muito alto e distinto, cultíssimo visitante de bibliotecas e que sempre se emociona ao final das boas histórias.



Lição - 2 - ?

Interrogación, é uma cantora mexicana, grávida de inquietações.




Lição 3 - `

A Crase é uma chuvinha de vento-oeste, e serve para levar o restante das palavras até o outro lado da folha.



Lição 4 - "

A Aspa, é só o autor testando a inspiração no canto da folha mesmo.




- Até amanhã, alunos!
- Quanto é até amanhã, professora?
- É só um dormir e acordar, daí já é.




sábado, 1 de março de 2014

Magia

   

   Seu João é homem distinto. Sujeito direito, como se diz. Um caipirosca na capital. Vizinho meu, de poucos números adiante ou atrás, depende do desígnio, na mesma rua. Não conto regra. Que seja. Fui acabar trabalhando com ele, no Instituto, como ele chama. Mundo pequeno, pequeno mundo. Todos os dias ele chega à tardinha, dizendo gostar mais da água da minha sala. Ele diz que no filtro do corredor, a água é da caixa d'água e ele não confia. É desculpa pra papo, que eu sei. Sou igualmente. Dias desses, tava ele lá tráveiz, e  fez com a voz:

       - Táaarde! - me ganhou. 


       - Táaaarde, bãozin Seu Jão? - ele se arreganhou. 



       Minhas orelhas encontraram cada canto da minha boca. Engatamos no papo. Que a chefe não nos leia.   Conversamos sobre quermesses, missa, coreto, moda de vióla e de como nossa rua parece um trecho fora da Capital, quicá do mundo. Mas, o que eu nunca vou esquecer, foi quando ele assumiu a inveja descarada por um dos mais antigos funcionários do Instituto, que é um Parque, digamos, uma reserva florestal. Nas palavras dele: 





       - A Globo veio aí um dia e o véio se achou. Tinha um bolo de cobra dormindo na escadaria do Palácio, a imprensa queria subir pra gravar, ele logo pegou uma Jararaca com as mãos. Uma mão na cabeça dela e outra perto do rabo, que é o final dela, olhou bem no zóin e disse: elas têm mais medo de ocês que ocês dela. 



       Seu Jão contou que a Imprensa desistiu de subir no Palácio pra filmar, ficaram entrevistando o véio. E o véio, decerto, nem absorveu importância alguma. Perguntaram se ele sabia imitar algum bicho de lá. E ele imitou algumas espécies de macaco. Mas a coisa só tava começando. Foi quando o véio imitou o canto de um pássaro, Seu João esqueceu o nome do dito, que a magia aconteceu. O danado do pássaro atendeu e veio comer grão na mão do véio. Seu Jão desacreditou. Eu também, com ele contando. 



       Eu feito passarinho, que por natureza não sabe viver trancado numa gaiola, de lembrar, já fico sentindo saudades do expediente.