.
.
.
.................................
Aqui a poesia é amadora. A música e a fotografia, amadoras. Tudo dentro deste peito é amador.

.

sábado, 16 de abril de 2016

Carta solitária (sobre o tempo)

Hoje esquentou demais. O asfalto vaporizou todos aqueles coloridos falsos de embrulhos de bala e maços de Marlboro abandonados. Entonteci. Eram 3 da tarde e eu consegui catar uma folha seca no chão, eu me lembro. Era tão bonita que eu trouxe pra casa e pensei em enquadrá-la. É possível que eu faça. Porque, além do vapor bonito enturvando o horizonte, o encontro de um outono que ainda não veio, me comoveu. Lembrei da Adélia, a Prado. Ela escreveu algo sobre guardar coisas lindas n'algum canto pra poder abrir depois e reviver a emoção. Algo assim. Não vou procurar o escrito na íntegra, quero que fique assim, malacabado na lembrança, só sentido, e inacabado como Picasso gostava de falar sobre suas telas. Acabar é acabar. E não é por isto que escrevo hoje. Acho que acordei continuando, sabe? Há dias que a gente acorda assim… Houve também uma fotografia que usei para a capa de um livro. Outonal? Invernal? Foi tão bom criar com coisas continuadas. Me deu ânimo, gás. Gosto de fotógrafos que me deixam pensar. E a artista é tão jovem! Lembrei daquele diretor francês precocemente brilhante, o Dolan. Eu fico a Deus dará no mundo de alegria quando encontro coisas assim, coisas carentes de serem remexidas sem que sequer mova-se nada. Foi uma semana de tensão nos ombros, mas de espreguiçamento de alma. E sobreviver? Também é poesia? O gato da vizinha sobreviveu a um envenenamento proposital de humano. Foi outra tensão. Mas, quando o dia nasce continuando, o que é que consegue acabar?





A imagem tal da capa, que é da artista Alice Heck