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Aqui a poesia é amadora. A música e a fotografia, amadoras. Tudo dentro deste peito é amador.

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quinta-feira, 29 de julho de 2010

Caminhos em branco


E eu sem mais sentir o aroma escuro da solidão. Dei de ombros, que fique. Deu-se que ela resolveu ir, desaforada. Me presto a carregar suas malas lotadas de capim seco. Seu vestido esvoaçando melancolias. Lamento não poder esperar que ela se apequenine no horizonte balançando seu lenço bordado de mágoas. Tenho meus passos atrasados em minha direção. E ainda estou à uma estação daqui. Um caminho sem marcas no chão. Não há mais o que chorar pelas folhas caídas, secas e amareladas, nada há nisso de triste, ainda que a tristeza pense que é. Foi só um vento rezador capinando tempos envergados. O outono com suas mãos ramosas desmanchando o presente. E eu revirando os rascunhos do futuro, como um arroubo de probabilidades armando sobre mim um bote certeiro. Tudo é apenas novíssima página em branco. E eu tomando a caneta por mim. Desvirando as palavras. E eu montando de volta em mim. Alforriando as asas... Há tanto grudadas junto ao corpo. E eu economizando tudo, menos a alma...







terça-feira, 20 de julho de 2010

Tempos de mar...







Olhos dos meus olhos, caminhos de meus pés, ressaca dos meus humores, força das minhas vontades… Corpo de marés que aquietam meu coração! Odoiá!
Que é pra quando não podemos lavar sozinhos, os nossos caminhos!





A linda imagem é da Renata e ela fica aqui ó: Renata – http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=16879465369204358824



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terça-feira, 6 de julho de 2010

Sobre quedas e vôos



O menino havia perdido o olhar de ave. Culpa de um estilingue que o acertara num de seus passeios e por isso fora cair bem longe do ninho. Logo depois fui eu. Que caí pra outro lado. Aqui no chão, tem dessas coisas, de estilingue, palavras de fogo e gaiolas. E o não admirar-se de uma revoada de fim de tarde. Coisas difíceis de conceber. O fato é que desde então ele anda por aí sustentando uma tipóia, com os olhos varrendo o chão e a cabecinha a pensar imediatices. Sem asas é difícil pensar alto. Eu sei disso porque também fui arrebatada e agonizo uma cicatriz bem grande na asa esquerda. Mas eu sou destra de nascença, ele sabe que eu poderia lhe fazer um curativo permanente se ele deixasse. Mas ele só passa aqui fugindo, deve ser porque ainda não sabe direito quem o acertou. E pra quem já foi capturado, agora toda gailola é trancada. Prefiro acreditar que a pedrada causou uma tonteira passageira, do que na queda ele tenha batido a cabeça e perdido a memória. Enquanto isso fico aqui a piar o desencontro, quem sabe ele ouve de longe e tem saudades...
Será que ele ainda sabe que para dois voarem juntos, duas asas já resolve? 







sábado, 3 de julho de 2010

Das entregas




Pela noite as paredes parecem estreitar e desafiam cada centímetro contrito meu a colher alguma descoberta. Respirar dói. Devastar segredos entre o imenso cor de sombra, é a minha pior agrura. Mas às portas de mim, uma gota ansiosa procura escôo pela minúscula fissura da possibilidade, e na lida chega às vias de derramar todo aguaceiro de dentro. Os dedos tremem. A barragem desaba. São linhas ondinas as minhas, que dançam uma canção de alívio, jorradas, libertas de todo o precipício de estar. E feito ventarolas pratedas pela lua, agora navegam calmas pelo oceano. Então posso estar contigo ou comigo ou em qualquer lugar. Uma pequena cissura, um bafejo e à face generosa do papel outrora em branco, ofereço a minha alma alí descansada...