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Aqui a poesia é amadora. A música e a fotografia, amadoras. Tudo dentro deste peito é amador.

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domingo, 26 de agosto de 2012

Sem sair, entra vai e volta


"A poesia é bicho que às vezes rosna. Outras, lambe as feridas. Tem dia que late atrás das grades do portão. E tem dias até, que ela consegue sair…"















Fotografia |  Alejandro Oliveira





quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O dia em que Manoel de Barros foi ao asilo


Dez horas da manhã é cedo demais para uma história Dona Paulina? - Arrisquei, receosa de precisarmos voltar mais tarde, eu e o livro.

Mas os olhos dela se levantaram como um gato que salta ao encontro de uma coloridíssima borboleta, certo já, de que não a aprisionaria, senão apenas no reflexo de seu olhar. - Olhe, faz um frio, quem sabe tua história me esquente.
Sentei à sua frente, num banquinho mais anão. Ela, xale cobrindo as pernas, chá de cidreira, andou que foi só solidão. E solidão na idade dela, é saudade que se escora nas paredes do peito. O tempo já murcho, como a fina pele que lhe envolve os dedos e com afinco, volta e meia, seguram a agulha de croche, apesar do incomodo tremor. 
Eu disse - Gostas de poesia Dona Paulina? - Em um aceno desanimado de ombros, ela diz - que seja! - E então, gaguejo duas vezes antes de engrenar a leitura...



'Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
— Imagens são palavras que nos faltaram.
— Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
— Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo).
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos,
retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.'



Daí que Dona Paulina soltou a risada mais gostosa dos últimos tempos - Quár o nome dele fia? Do poeta? - Manoel! - respondi, alegre alegre. - Mas veja só! - E ria e ria, ela, toda ela. - Leia mais um vá.


E li, mais um e outro e outros. A todo tempo verificando o curioso semblante de Dona Paulina. Surpreso. Diria, encantado. E me despedi, mas não sem antes depositar o livro entre o xale amarelo em seu colo e suas mãos morninhas.









O livro: O guardador de águas



P.S. 1:  Infelizmente não tive a oportunidade de registrar Dona Paulina num click meu. Asilos são lugares onde se pisa silenciosamente, para não despertar tantas recordações.

P.S. 2:  Talvez, eu tenha conquistado uma nova amiga e se assim for, prometo voltar com um registro de sua terna 'aparição'. Por conta disto, anexei uma imagem, esta que veem, colhida no google e da qual não consegui decifrar o autor original, fico devendo.

P.S. 3:  De todas as coisas que já escrevi aqui, Manoel foi o responsável por, pelo menos 80%, ele me mudou. Ele mudou a solidão de Dona Paulina. Entendi o que é escrever, realmente, depois de tanto tempo.

P.S. 4: Termino, dividindo o nosso abraço com vocês, tão demorado... 



terça-feira, 7 de agosto de 2012

Ela e a vidraça




E cada uma das gotas de chuva pousadas na vidraça contra a luz, perguntam ao dia do lado de fora, quando anoitecerão estrelas...





Fotografia | Heverton Plácido