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Aqui a poesia é amadora. A música e a fotografia, amadoras. Tudo dentro deste peito é amador.

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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A Lourdes

     Vim de encontro com a Dona Lou no caminho do ponto de ônibus pra casa. Vizinha tranquila e brincalhona de uns 65 anos, talvez. Pena eu não saber muito dela, até. - 'Zi! Que chuva menina, vem vamo junta!' - largou alto, driblando o peso das suas sacolas com um sorriso bonito.E aceitou que eu dividisse com ela o peso e o abrigo no meu guarda-chuva, redistribuindo entre as mãos as sacolas. Apesar de algumas rugas lhe enfeitarem a tez, delicadas pinceladas do tempo que inevitávelmente esmaece, sempre a entendi muito moça e valente.
     Enquanto os respingos das poças na rua brincavam com nossos calcanhares, meditou - 'Os jovens estão todos com essa carinha de cansados que você tá hoje!' - Fingi um sorriso conformado e contei -  'O mal do século é a solidão, ouvi por aí Dona Lou.' - 'É nada.' - e continuou me adivinhando - 'Não é de agora que é complicado fazer amigos viu? Só duvide de quem prende um carinho para contigo às portas dos lábios. Como esse que me dispensou agora. Acho que colecionam muito mais dos teus defeitos na ponta da língua. São as mesmas pessoas que criam pássaros nas gaiolas... Escondendo dos outros as suas cores de asas. Mas tem uma gente aí que fica feliz quando conhece outra de valor... Elas tão por aí, Zi. Então continua indo... Só vai...' - Então deixei-a no portão e precipitei um abraço que ela sorriu ainda mais largo e veio enorme e desengonçada pra cima de mim. Que apertado... O marido a esperava na ponta da escada. - 'Oh Lou, eta mulher! Por que não ligou pra eu ir te pegar?' - Dona Lourdes continou com sua voz vibrante... - 'Oraaa, eu vim com a Zi, batendo um papo, ajuda aqui ó!' - Continuei o passo mais entendida desses respeitos...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Revoo

Cabem ainda quilômetros de passos por dentro desta sala que me retribui o silêncio. Tenho jorrado uma coragem à deriva e pingado abandono por dentro desde muito. Lágrimas atrasadas emperrando os sorrisos, que secaram às portas dos olhos sem momento propício em desabar. Das que tem força de mil quedas d'água e a altura de um mergulho demorado. No seco da língua a indiferença insossa que mastigo enjoada... ela me sorri amarelo. É preciso que eu desabotoe este peito para me revoar, como quem encosta ao ouvido uma concha solitária que conta histórias esquecidas. Preciso ouvir dentro deste silêncio para conseguir estar mais próxima em passo do meu próprio abraço. É que hoje eu preciso me ouvir, me escrever e saber de mim...

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Brancura do céu

Escrevo pessoas. E às pessoas. Nunca pude fugir disso. Sou apenas a moça atrás da história. Porque eu penso que pessoas são como borboletas e as suas grandes asas frágeis e coloridas. Precisei mais que entendê-las, precisei doá-las ao papel, como se fossem ainda mais, pássaros cruzando branco céu, somente para que mais tarde eu pudesse segurá-las sem ferir suas cores...