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Aqui a poesia é amadora. A música e a fotografia, amadoras. Tudo dentro deste peito é amador.

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sábado, 23 de abril de 2011

Ponte invisível



Ontem, esbarrei com 'ele' por aí... Depois de tanto tempo era a primeira vez que eu o entendia. 
Afinal, ele nunca havia ido embora de mim. Partiu de si. Sem deixar um olhar que atestasse um passado, nenhum sonho sequer. Foi-se apenas. Verticalizado pela culpa. Olhar lambendo os sapatos... Talvez por isso, eu nunca descobri a quem entregar o meu adeus. Mas foi ontem, ao formarmos essa ponte de olhares que dá acesso ao dentro do outro, que por um cisco de momento ele pescou-se de volta. Bem dentro dos meus olhos estava a mais bela face dele. E então eu o reconheci. Ele havia voltado. Não para mim. Para si. Como um filho arrependido que retorna à casa, perdoado. Agora ele já podia pedalar livre pela vida, sem as 'rodinhas'. Entendemos isso. E creio eu, assim muito docemente. Podemos enfim, assistirmo-nos sumir pequeninos no horizonte da estrada um do outro, vagararosamente, até nos tornarmos uma delicada lembrança de um sonho que se realizou. Pois sonhos que se realizaram, cumpriram o avesso de ser apenas sonho, para ser qualquer coisa boa na lembrança. 
E como eu, sei que é assim que ele gostaria de ser lembrado ou esquecido. 




Põe delicadeza no que vai escrever e onde quer que me esqueças... Thiago Pethit






Inspirado em encontro real e  também no belíssimo texto de Carmem: http://cacafarias.blogspot.com/2011/04/poe-delicadeza-no-que-vai-escrever-e.html ~ a quem abraço sempre e dedico.


quarta-feira, 13 de abril de 2011

O retorno



Era eu entre aspas. Sugada pelo susto para dentro do mudo retrato... Recolhendo despedidas com os dedos.
Eram os minutos desmaiando sua lâmina afiada pelos meus pensamentos plantados em algum lugar no chão, fatiando a memória como se eu tropeçasse no pretérito de minhas anêmicas lembranças.
Era eu flutuando no ar feito partículas dissipadas sobre o instante...
Era meu coração recortado... Como se fosse apenas uma silhueta vazada por onde o vento cortava caminho. Era eu página virada. E os pingos de chuva franzindo a imagem pintada nas poças dos meus olhos. Era eu chutando sonhos esfumaçados que brotavam do asfalto quente...
Por dentro, o eco. O retumbar fugidio de quem viveu de palavras e as recebeu nunca, que perdeu o paradeiro de uma caneta seca de nada sentir e sentia enfim... Era a alegria tumultuada de quem sorri como uma borboleta que se entrega sem resistência ao abraço do vento, salva da neutralidade ou de qualquer sentimento rasurado.
Eram as palavras escapulindo afoitas do meu peito. Logo eu, a mulher mais fraca que já conheci, que espiava fantasmas escondida por dentro dos olhos, agora arrancando letras soltas do meu piano de contar. Era eu, aureolada pelo verbo que dependurava em linhas eternas as sensações de apenas um segundo. A visão, este conto contado pelos olhos. Foi demais para mim.
Pois há esta desmesurável chance em minha escrita. Esta contradição que rompe com flores o véu do silêncio.
Era eu sem mais temer a descontinuidade das coisas.
A cada palavra que se completava no papel, um pedaço que faltava, colava-se novamente ao coração.  




Quando a dor se aproxima
fazendo eu perder a calma
passo uma esponja de rima
nos ferimentos da alma.

O espetáculo não pode parar...


Cordel do fogo encantado