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Aqui a poesia é amadora. A música e a fotografia, amadoras. Tudo dentro deste peito é amador.

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domingo, 17 de janeiro de 2016

À Halina Olhier

Carta à Halina Olhier


Queria ter te escrito um poema. Uma poesia. Mas perdoe-me a intimidade, sinto um espaço fluído entre nós, quase deslizante. É raro sentir isso, pois que optei por uma carta. Além do recesso – espero – temporário de inspiração.

É provável que aqui você encontre espectros de poesia ou halos enormes de reconhecimento e consideração, o que por si só já é poesia, mas a palavra, esta flui sempre como uma conversa debaixo de árvore. E temos entre nós, um respeitável momento de silêncio. Mais pra frente quero te contar sobre o silêncio. Outra coisa rara.

Tenho sentido um sufoco enorme. Por abraçar tanto as pessoas, todas, quase perdi o dom dos braços. E é sempre bom ter com quem sofre tão nuvem, tão brisa, tão vento que não sufoca. Seu ego não veste botas, mas asas. E só é assim, por sua puríssima honestidade. Outra coisa rara. Honestidade esta, sem desespero, apesar dos pesares. É como se você respeitasse o sofrer do outro sem saber do que se trata e nem se se trata maior que o seu. Sabe o quão grande é isso? É enorme.

Bukowski já havia dito que as pessoas o esvaziavam. Senti esvair de mim, a mim. Mesmo segurando o peito, derramei. Sei lá onde fui parar… Por isto, inventei bifurcações. Era preciso partir sem fazer o caminho contrário, sabe? Só ir sem desprezo, mas com algum desencantamento. Há tanto desespero no mundo, Halina, tanto! Que eu não podia mais ser cúmplice de aflições estendidas e engessadas e escolhidas. Daí eu vejo você lutando. E é tão bonito! Sabe-se lá, Halina, de você… Sabe-se lá! Mas você escolhe ler, você escolhe encher a tua vida de arte e de glória. Você escolhe amar. Todas as dúzias de pássaros que imagino te voam. E te dançam e te agradecem. Você poderia ter escolhido nos desesperar a todos ou nos fazer conformar com tudo, mas não.


Sobre o silêncio, me perdoe a ausência da bibliografia, eu leio demais. Leio, de placas publicitárias a serviços de compra de ouro e prata e implante dentário. Mas, sobre o que eu gostaria de te contar sobre o silêncio, diz respeito ao pensamento. É o que ficou em mim, basicamente. Penrose, o físico, caminhava com algumas pessoas pela rua. E é claro que iam dissertando sobre muitas coisas, como todos fazemos em conjunto. Em dado momento, precisaram atravessar a rua e então fizeram aquele silêncio característico que fazemos ao atravessar uma rua. Foi ali, exatamente ali, que ele concebeu a teoria dos buracos negros. Num pequeno momento de silêncio. Mas, retomado o “conversê”, ele se esqueceu do que havia pensado. E só retomou o seu pensamento, momentos mais tarde, ao se lembrar do silêncio que fazemos ao atravessar uma rua. 


Halina, agradeço pelos momentos de compreensão silenciosa dos meus momentos de confusão e os hiatos, sem nenhuma cobrança destes novos tempos. Momentos meus, que são em verdade e puramente, nada mais que, cabeça na lua. 
Acredito que nesses momentos, estamos parindo algo muito importante. 



Um abraço muito apertado, foi bom demais te conhecer, 



Zi.







terça-feira, 12 de janeiro de 2016

À Mariana Gouveia

Mari,

me perdoe a demora, caí em 2016 um tanto perdida. A vida é uma tontura só. 


Conforme a sua teoria, há poucas coisas que não mudarei em nada pro's lados de cá: o alecrim vingou, a roseira amarela deu três rosas grandes de uma só vez e escancarei, fotografei um sol cor-de-rosa. 



Mas um dia teu nome amanheceu triste em Minas Gerais. Pra depois entardecer sagrado. Eu conto. Separei roupas e utensílios para doação, surpresa foi que me impediram de enviar, pois as doações já tinham sido tantas, mas tantas, mas tantas mesmo! Não é bonito? Então, decidi botar cortina em todos os cantos da casa e meus. Quero ver o vento dançar comigo como dança com as folhas soltas no quintal. Quero arejar, porque esvaziar eu fiz demais. Você sabia, Mari, que alguns físicos dizem que tempo e espaço é tudo a mesma coisa? Pois é. 

Achei engraçado porque a mim serviu justo. Eu não a vejo, Mari, há 1,329 km em linha reta. Porque tempo, não se mede mais entre nós.





E foi bom 2016 começar em Ana. Foi sim. 



Te amo, feliz ano inteiro.




Para você um sol com pétalas, lá de Aparecida do Norte.