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Aqui a poesia é amadora. A música e a fotografia, amadoras. Tudo dentro deste peito é amador.

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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Diacrítico

Quantas emoções ainda podem ser captadas por uma sílaba que usa chapéu? Duas sobrancelhas tristonhas repousadas sobre a ausência e a distância?






Imagem | Johann Fournier



quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Chorinho


Quando eu era bem pequena, chorava sempre mas não muito. Não era berreiro menos ainda manha. Era só aquela lágrima levinha caindo sem nem mesmo eu saber porquê. Nem choramingo era. Eu olhava para os pregadores sozinhos no varal e achava bonito, escorria. Um parafuso esquecido no chão, um cadeado enferrujado, lá vinha. Eu não via as coisas, eu as atravessava. Um dia ouvi minha mãe preocupando - 'Eu não sei mais o que fazer...' - E fui aprendendo a segurar, tanto... Cresci. E fui pra Faculdade de Letras. Desmoronei. Tornei a atravessar coisas e pessoas. Conheci gente que também atravessava. A primeira coisa que escrevi, levei pra casa e li. Minha mãe daí chorou dentro de um sorriso. Eu só soube dizer - 'Lembra daquele chorinho, mãe? É ele aí.'












terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Carta à Janeiro



Desta vez, trago-lhes notícias do mundo real.

Ele é muito real.


Nem tão feio quanto dizem e nem menos assustador do que pensávamos. Mas descontínuo e mais intrigante que o telescópio newtoniano. Há tanta ainda, mágica no ar, que eu poderia sufocar.

Agora, chove manso, o aroma que se desprende das folhas do esbelto eucalipto, invade as janelas que entardeceram de asas abertas. Só assim te escrevo. Quando o vento ganha  algum perfume.



Por falar em árvores, as que foram plantadas por toda a extensão da minha rua que tem nome de Lagoa, gosto de destacar, floriram. 

Uma vizinha palpiteira deu de me chatear dizendo que não eram plantas de florir, mas esta semana ao abrir a janela, alí estavam sorrindo rosa-claro.  Eu ralharia-lhe o engano, não fosse seu sumiço deveras oportuno. Cheguei até a pensar que flores eram seres extremamente vingativos e de audição apuradíssima. Não fosse pela chuva delas que tomei numa sexta-feira destas passadas, indo ao trabalho. Uma região de árvores centenárias. Ventava fresco e as florzinhas amarelo-ouro das altas Tibipuanas iam desprendendo-se de seus galhos, quase que em câ-me-ra  len-ta, e caindo por cima da vida da gente que passava. Por Deus, quase cantei o Hino Nacional! Há coisas que só acontecem neste país. Penso eu, em minha humilde bagagem de quem só visitou Piraporinha do Bom Jesus.

 Dalí em diante, pensei que em Janeiro eu seria feliz. Não que já não seja. Mas não é desta felicidade amiúde que eu falo. É bem outra. Ando até a conferir a sinastria, porque acredito que entre as doze constelações, uma combina com a minha.

Reformei algumas esperanças. Inventariei sonhos antigos por ordem de importância, não data. Comprei selos. Escreverei para longe e para aqui do lado.  Só pelo capricho de dar mais poesia à vida dos carteiros. 


E se o amor inquilino quiser entrar. Eu deixo ficar. 






Feliz 2013 gente!