São cinco horas.
Tarde de sábado. Há qualquer coisa de encanto.
O sol teima já longe das nuvens
alaranjadas, mas posso ver o cinza que vem do norte, é chuva. E é tão bonito
que quase abandono o leito chão morno para me levantar e aplaudir. Soube que
fazem isso em alguns lugares, me dá vontade de conhecer todas essas pessoas. Mas
me lembrei de você, Mariana, Maria, Ana ou tudo. No varal algumas saias dançam,
o gato na janela, cheira o vento que lhe chega ao bigode. O cão esbarra na
hortelã e me olha tão longo... Penso sobre a sorte enquanto afundo na terra,
com delicadeza, uma raiz solitária. Cubro-a com terra. Como você me cobriu. Minha
raizinha. Só então entendo tudo. No seu quintal uma flor se transforma, eu
penso nela e meu mês de março se torna uma vida toda.
Na rua uma criança grita animada:
Vai chover!
É a primeira vez que sorrio com o
corpo todo. A alegria é mesmo boba, não teria sentido se não fosse. A gente
cresce demais. Quero a curiosidade infantil das borboletas.
“Sorte é isto, merecer e ter.” Abraço
Guimarães antes de começar a te escrever. E chove. Tento não incomodar as gotas
com a lágrima que meu sorriso recolhe.
Não sei falar destas coisas como os
dignos de cadeira.
Flor. E a palavra desabrochou enquanto
eu escrevia.
Alma, mar, cintilar... Azul,
pássaro, voar. Abraço, março. Sorte,
benção, gratidão. Amar. Já não sei falar. “Sou livre para o desfrute das aves”.
Amém, Manoel. Obrigada, Mari-ama.
E para acompanhar esta macro amadora, uma canção. Com o perdão do trocadilho sonoro, não consegui evitar. Formi, formi, formi, formi, formidable! rs.