Escrevo para entender. Se soubesse, cantaria. Meu peito está blindado e poucas coisas atravessam.
Tanto tempo já se passou, não saberia contar, e aquilo que eu senti ainda não encontrou a estrada de ida. Paira. Só paira. Emma Morley, personagem de Anne Hathaway no filme One Day, decretou a frase de uma vida:
“Eu ainda te amo, só não gosto mais de você”. Disto é feita uma blindagem. O morníssimo
narcótico do esquecimento. Passo pelas cenas do filme e sinto frio por dentro, é o vento gelado que antecede a esperança, geralmente é assim quando
ela volta. Não mais. Emma, pacientemente, o espera. Não sem sofrimento
e outras paixões. É como se ela aguardasse, inconscientemente, pelo momento em que ele estará
maduro para amar de verdade. E ele é transformado. Por ela, pelo amor por ela.
E ele foi um idiota por todo o tempo disponível, possível e como se não houvesse escolha. Não vou contar o
final, é lancinantemente lindo.
A arte imita a vida. Não tem fim. Colidi. Mas
estou viva. Talvez tenha sido mais fácil, ferida, deixar de querê-lo. Acho que
nunca saberei o que se passa com ele. Eu jamais tive a menor chance de conseguir. É possível que nunca procure. Uma espécie de dor se esconde, posso sentir sua respiração encolhida em algum canto em mim, mas não sinto vontade de fechar as
cortinas e voltar a dormir para abraça-la. E já não sei chorar. Só não sabia por onde começar a
deixá-lo. Talvez por aqui.
Então, preparo uma página inteira para uma
despedida em que ele não vai estar. Me sinto quase morta por alguns segundos. E se me demoro, é
sempre como forma de adiamento. Ouço todas as nossas músicas, não choro. Nem em homenagem ao que não foi, consigo. Esses pássaros feridos nos
causando dor de insuficiência. Quando nos deixarão partir sem deixar para traz
alguma culpa?
Como esperado, me apaixono novamente e não por
ele como de costume. Já estou nos braços de outro. Não houve exatamente nada que eu pudesse fazer para impedir. Eu não tenho
grades. Está terminado e nada do que ele faça me
fará desistir da desistência. Embora saibamos que ele não fará nada.
Mentiria se dissesse que não dói não sentir sua falta, mas não dói não lembrar que poderia ser ele. Meu coração está entusiasmado. Então o coloco
estendido sobre algumas linhas cuidadosamente compostas sem muita poesia, e espero
que ele durma tranquilo, refeito e bondoso como nunca. E como se o filme tivesse, enfim, terminado bem, e só as sombras permanecido atrás
de um poderoso sol que me ilumina inteira, fico cinza como sobrei
depois dele, as nuvens estão carregadas, mas é verão.
Não me lembro mais do seu sorriso. Não possuo mais nada a este respeito. Nem
mesmo a coleção de recifes que costumava admirar no fundo de seus olhos oceânicos. Boba, sinto uma quase angústia. Ninguém deveria ser esquecido. São outros olhos agora, outras lindas cadeias montanhosas de difícil acesso, onde não é preciso escalar. Esperanças
novas não doem.
Um sentimento quase desumano me toma, sinto vontade
de convidá-lo a partir comigo nesta aventura onde ele não cabe, como num novo filme,
quem sabe, para testemunhar a ineficiência do medo. Ainda me preocupo. Somos todos inocentes e amar, amar mesmo, não dói.
Just breathe... Just Breath. Just... Esta era a música que deveria ter tocado quando nos conhecemos.
Cuidemo-nos. Gentilmente. Cuidemo-nos.