Há um único momento, talvez dois no máximo, dentro de uma vida inteira em que sentimos o flutuar dos próprios pés contra a nossa fragilidade de ser grande. Já não voamos mais. Tem esse garotinho sentado na calçada e que brinca sozinho, sua solidão é tão dedicada e mesmo assim, curiosa, me aproximo e o chamo de meu doce. Ele ergue a cabeça contendo dois grandes olhos brilhantes e castanhos desconcentrados em mim, e diz, com a voz propositadamente engrossada de homem: meu nome é Murilo. Porque há este outro grande momento em não ser de ninguém e que é dele. Entre os galhos e folhas secas de árvore, uma única flor amarela de Ipê comandava seu grande exército imaginário.
fotografia | Zi