Silêncio...
Algum silêncio, é tão mais alto quanto o abraço do sol no rosto de um preso.
Silêncio
não é a falta de ruído mas é ele demais.
E só o silêncio pode entender-se com
outro silêncio. Um momento onde entrelaçamos uma canção que não nasceu para ser
ouvida. E é dentro deste pequenino espaço, que acontece a maior comunicação do
universo.
Uma criança sozinha no pátio é um grande abalo. Um mendigo dormindo
ao relento, um enorme estrondo que trinca o asfalto amigo. Um vaga-lume buzina sua engrenagem genética na escuridão, um verde-som.
Tudo isso eu penso, enquanto troco os meus silêncios por
uma porção de vislumbres. E ajeito o olhar junto às compensações diárias, antes
de tomar coragem para contar minha rotina ao meu pai que, silencioso, medita um
destino mais digno ao parafuso abandonado no chão à sua frente. Nós não nos ‘encontramos’
muito. Eu poderia evaporar instantaneamente,
não fosse entender que é bem ali, que eu esteja ganhando um grande momento
junto dele.
As memórias gravadas rente
as paredes são um profundo falatório. E como debatem-se. E como me chamam. O
relógio torto na parede. A festa de há dois anos. A mesa posta pra um. A camisa
dele que ficou faltando botão... Que ficou. É ensurdecedor. Do fim para o começo, o amor é um grande silêncio que escrevo
cada vez mais baixo. O silêncio me entende que nem. Arrisquei tantos pontos
finais para terminar frases silenciosas que fiquei vírgula. Mas apenas, como ponto final que escorreu. E este é outro grande barulho.
Fotografia | Jim Herrington
Na foto, piano Starck que Jerry Lee Lewis ganhou de seus pais aos 10 anos de idade.