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Aqui a poesia é amadora. A música e a fotografia, amadoras. Tudo dentro deste peito é amador.

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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Carta à fevereiro


Coisas que eu precisava contar e foi a Luci quem ouviu. 
Amiga boa amiga.
 Mas agora pertencem ao fevereiro todo.






     Luci, será mesmo que de repente assim sem mais e nem menos eu poderia escrever à crianças? Elas ririam, ao menos. Meu Deus, como eu sou toda errada! A vida era mais fácil quando haviam as avós por perto. Sempre uma sacada genial, frases que eram quase versos, se não eram... Até hoje ouço Orlando Silva e entro em comoção, me lembrando do radinho de madeira onde minha avó paterna, a dona Xica, ouvia 'A Rosa' e entonava a voz para cantar junto dele, sorrindo. Na hora do tal 'pograminha' em que ele sempre cantava, ninguém ousava incomodar, senão ela dizia: Araaá, vai atrapalhar pra lá. - E as vezes até beliscava a minha perninha, porque eu queria deitar no sofá junto dela, mas eu não parava de me mexer. Ela dizia que eu tinha bicho carpinteiro (?). Hoje ela iria presa, pelo belisco. Que tempo ridículo o nosso... É, ela não se importava que atrapalhássemos, mas não naquele momento. Um ser libertário. Uma anarquista, eu diria. E gostava de 'sombrinhas', como gostava. Não tinha lugar que ela não ia com uma a dependurada pelo barbante. Contou até que um dia espantou um tarado com uma. Quando ela foi bater na cabeça do vadio, a sombrinha abriu... Naquela época os safados se assustavam à toa. Bons tempos. Vai ver que é daí que veio esse meu respeito por esses guarda-cabeças e costas. E pelos passarinhos. E as romãs. Quando ela estava partindo deste mundo, viu pássaros entrando pela janela do hospital, nunca mais esqueço. Quando eu morrer, precisa ser assim Deus meu! Enfim, é fácil se sentir desamparada num mundo deste tamanho né Luci? É comum? Eu sinto assim, dia sim, outro também. Eu tinha mais coragem quando era 'desaforenta'. Um dia a vó me 'tocou' da casa dela e eu fiz um bico do tamanho do universo. Minha mãe: a vó tocou ucê de lá né? Tava amolando ela né? -  E eu disse: só por desaforo eu vou lá outra vez. - Ô saudade de mim Luci! Ô saudade.

Fevereiro nasceu me sorrindo banguelas...





Esta imagem foi captada neste site: http://flickrhivemind.net/Tags/casa,quintal/Timeline
Infelizmente não consegui identificar o nome do autor, em todos os casos o link é este.





4 comentários:

  1. Quando eu digo que sou abençoada,algumas pessoas acham que estou a inventar.
    Algumas pessoas Deus coloca na nossa vida,apenas para dar vida aos contos...

    Ah,Luci que saudades de mim também.

    Reverenciando o Universo inteiro através de ti,de tua avó e agradecendo demais por tê-la na minha vida.Beijo-te menina passarim

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  2. Também morro de saudades dum tempo em que vivi com a minha avó. Era assim, feito a tua, moça simples, mas cheia de sabedoria, como toda avó necessita ser.
    Abraços.

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  3. Minha cara, eu tive nona e tive lembranças assim. Coisas do sofá onde eu sentava pra ouvir histórias inventadas. Coisas da mesa da cozinha onde esfregava as mãos onde de provar bolos, biscoitos e outras coisas mais. Saudades. Você me deixou assim, suspirando lentamente. rs
    bacio.

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