Tentei deitar os olhos por mais noites seguidas do que eu pude contar. Mas parece mesmo que eles tinham muito mais a fazer, como ficar dando visão aos pensamentos muito bem acordados de uma cachola ressabiada.
Precisei me juntar a eles para não ficar sozinha na cama. Só o coração implorava um sono eterno, mesmo sob o hipnótico efeito de fé que o tercinho azul operava ao balançar por entre meus dedos, enquanto eu mirabolava um perdão além das possibilidades.
Precisávamos salvar vidas ainda naquela noite ou então tudo teria sido em vão. Por algum motivo, que não desprezo, a mente daquele moço ficara no automático de suas fraquezas enquanto ele estava... não sei onde. E por isso, tomei a raiva por impulso, como um análgésico que decidi por não administrar a cartela toda. Afinal, o moço não só se perdera como não havia conseguido ainda se encontrar. Compreender sua consumição era como estender nuanças mais leves pelos dias. Coisas das quais me sobram no olhar. E escrever foi apenas a menor distância que encontrei para abraçar. Quem sabe que eu assim, consiga lançá-lo à um mergulho desatado para dentro de si. E eu seria feliz. Ainda mais, se puder um dia ensinar aos meus filhos, onde fica abrigada a alma. Não quero mais correr o risco de esbarrar numa ausência assim tão funda. Uma herança de respiros valiosos.
Mas na verdade eu só precisava dizer ao moço, que tivemos as vontades bifurcadas a medida que nos aproximávamos do espelho. E que por isso, agora somos apenas e muito, a moça e seus sonhos, o moço e seus caminhos, mas com tons e força diferentes. Precisava dizer que essas eram as únicas chaves que eu possuía para abrir todas as gaiolas das quais criamos. Viver não precisava doer. Mas eu precisei. Como preciso dizer, que foi assim que gastei as dores todas, uma a uma nas contas daquele tercinho azul de rezar.
'Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos.'
Guimarães Rosa
Imagem, Amanda Cass
"Compreender sua consumição era como estender dias mais leves pelos dias. Coisas das quais me sobram no olhar. E escrever foi apenas a menor distância que encontrei para abraçar"
ResponderExcluirquando a distância separa os corpos as palavras abraçam cada despertar. É assim que caminho em volta da solidão, com letras, com sonhos e uma sensação de escuridão.
Rezar é estar mais perto. Daquilo que podemos tocar.
Um beijo Ziris. adoro esse teu canto de sonhos.
Venho aqui e fico assim
ResponderExcluir(...)em suspiros
"E eu seria feliz. Ainda mais, se puder um dia ensinar aos meus filhos, onde fica abrigada a alma".
conhecer a alma,entende-la e ...
"Alma! Deixa eu ver sua alma... A epiderme da alma... Superfície!
Alma! Deixa eu tocar sua alma com a superfície da palma...da minha mão! "
fique com meu carinho cheio de admiração.
"Precisávamos salvar vidas ainda naquela noite ou então tudo teria sido em vão."
ResponderExcluirNem que seja a nossa própria vida
Belo Texto!
Palavras têm braço e fome de abraçar, assim tb sinto. As minhas querem fazer bem isso contigo, e mais até, colocar-te no colo....fazer-te um cafuné.
ResponderExcluirTriste sim mas bonito pra danar esse texto.
"E eu seria feliz. Ainda mais, se puder um dia ensinar aos meus filhos, onde fica abrigada a alma. Não quero mais correr o risco de esbarrar numa ausência assim tão funda. Uma herança de respiros valiosos. "
Sente tua alma menina, ela pulsa nos dedos...não vês?
Te gosto de ti e desses teus toques de vida.
Meu beijo
Erikah
''E eu seria feliz. Ainda mais, se puder um dia ensinar aos meus filhos, onde fica abrigada a alma.''
ResponderExcluirQue delicia ler tanta beleza!Aqui é bem assim um 'quintal de felicidade'...
cê tem um coração especial, menina poeta!
Um beijo*
Leitura maravilhosa que tu me proporciona sempre, viu? ai ai, Ziris, belo texto pra se ler numa sexta-feira, me tocou, me fez sorrir.
ResponderExcluirEu sorrio. Tu sorri. sorrimos.
Tomara que a leveza e a beleza do teu texto seja agora a tradução do que vai aí dentro do coração.
ResponderExcluirbeijo.
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirNão sei a quem mais este anjo de candura quer enjoar além de mim, que estou fraca e sem bíle.
ResponderExcluirAcha que vai seguir em frente assim tão intocável? Acha mesmo que a vida é assim? A quem acha q esta "tocando"? Volta pra terra criatura e para os livros também, um pouco mais de sofisticação e métrica lhe deixaria mais tragável! Me dá um medo saber que as pessoas que te indicam sofrem do mesmo mal, o mal da candura como marketing pessoal. Mas marketing do que mesmo? E pra que? Mais medo eu tenho de cruzar com um destes zumbis vestidos de cor-de-rosa, no meio da rua. O diabo que me livre disso.
...
ResponderExcluirO Trágico Dilema
Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro. Mario Quintana
...~...
Como devo-chamá-la, Srta. Anônima?
Mas sente-se e tome um gole dessa cachaça que vou servir. Vou abrir meu coração a uma estranha... Perdoe-me a túnica cor-de-rosa mas não tenho por hábito mudar de roupa ao receber visitas...
Veja, An, vamos papear. Nunca medi a poesia dessa forma,(... a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós...) entende? É fato que os Lusíadas já deixou-me muitas e muitas vezes boquiaberta e alcandorada. Mas temo que tu, entusiasmada com as métricas tão perfeitas não tenha captado a emoção que ele discorreu alí com tanto cuidado. Meu desejo sempre foi manter a mágica entre eles e eu. Não quero quebrar o encanto das palavras que moram em mim mas que muitas vezes, são tão lindamente escritas por eles, em rimas e métricas fabulosas, tão perfeitamente colocadas para trilharmos em todos os detalhes o caminho do regalo. O que faço aqui, nada tem a ver com 'ser' como eles. Uso os temas como minha oração, já que não sou dada a decorar coisas. Jamais ambicionei ser matéria de vestibular daqui a 100 anos, na minha opinião, um ego ingrato! Quero saber um dia de alguém, uma única pessoa que mudou um tantinho a direção de sua vida, por conta de um escrito meu. E isso, confesso, nada tem a ver com a melancolia da qual procura.
Perdoe-me Álvares, a quem admiro a técnica e a paixão além dos limites. Perdoe-me Alphonsus e seus anjos e virgens mortas. Perdoe-me Augusto e sua poesia exata de sarcasmos até a boca de amargura. Perdoe-me tu, An, mas estão todos mortos, de uma morte cheia de lirismo e pouco tino de viver, haja lido. Ainda se trata do tal encantamento, viste? Nada mais...
An, assim como a dor, a alegria de viver é coisa que se escreve de proprio punho.
Deixe a porta aberta quando for saindo...
Ziris
Sabe, Ziris
ResponderExcluirvocê me alegra muito quando vem aqui me ver. Você faz parecer que tem importância as palavras que teimo em escrever.
Sobre a coragem naquele assunto dificil, muito grata pelo apoio, é F* não poder falar nada nesse país de pseudo-burgueses.
Aceite um beijo de carinho
e os votos de que alegrias não te faltem.
Be
E para mim nada é mais agradável de ver e viver do que a cor de rosa dos corações leves e poéticos como o teu.
ResponderExcluirSou cor de rosa até o osso, e meu robe idem.
Tamo junto e misturada!
*
Oi coismailinda!
ResponderExcluirSaudades de ti.
Lindo texto, não dúvido em nenhum grau da veracidade de TODAS as palavras, já que te conheço há tanto. E você foi muito bem alí em cima ein, além do texto. Tem muitas coisas que te sobram no olhar, muitas. Eu quero arriscar escrever e encurtar essa distância pra abraçar. Deita aqui no meu colo, esta tudo bem. Os sistema é mal mas minha turma é legal!
Abraço de estalar a coluna!
Mas Ziris, o moço disse que quando se aproxima do espelho ele vê é o menino, por isso que bifurva: um quer salada, o outro precisa de chocolate. Um quer cerveja, ou outro precisa de leite em pó. Um toma banho, outro precisa gastar a água do planete numa inundação imaginária. Percebe, então, pq bifurca? Qqer hora a gente cai pra dentro.
ResponderExcluirComigo às vezes se dá de compreender e a razão perdoar, deixando o coração ranzinza, resmungando sozinho pelo corredor.
ResponderExcluirMas acontece também de o coração ser mais generoso e perdoar antes mesmo da razão, sem se importar de entender. Quando é assim, fico sem peso, capaz de levitação, cheia de ignorados poderes. Corro ao oratório e profiro graças diante do espelho: é que obrei meu próprio milagre de cura. Prevaleci sobre os demônios.
Precisamos invariavelmente doer. Temos a impressão que tudo seja triste, mas a felicidade é uma forma de dor com conseqüências diferentes.
ResponderExcluirNossa. embasbaquei com esse texto. lindo demais.azul.
ResponderExcluirbjo!
É de esbanjar lágrimas num horizonte que ainda dói...
ResponderExcluirVim deixar um beijo
Guia espiritual à distância - Definição: é a encarnação exata da sabedoria suprema.
ResponderExcluirBeijos do além céu.
As palavras aqui dispensam qualquer outra...
ResponderExcluirMas mesmo assim, queria dizer que além de belos, seus textos são conforto para a alma.
Estou seguindo você!
Um abraço moça..
http://ascoresdela.blogspot.com
Não sei como comunicar-lhe a minha gratidão. Até bem pouco tempo estava restrito ao grupo de amigos que me acompanhava e hoje a cada dia reconheço novas raridades neste universo poético.
ResponderExcluirEspero que saiba como palavras como as tuas, me alimentam.
Manterei-me por perto.
Poeta
Esse blog é uma fofurinha!
ResponderExcluirUma graça o seu blog!
ResponderExcluirParabéns!
Bjs
Adorei esse espaço!
ResponderExcluirParabéns por suas palavras.
Palavras como estas, é raridade!
Obrigado por escrever tudo isso para lermos!
Beijos
ô minha flor, Relendo-te de novo...e sentido-te de novo tb.
ResponderExcluirSabe as vezes sinto que a tristeza deve ser que nem leite quente no fogo, deixar crescer até transbordar a panela , viver a tristeza em todas suas nuances pra só então sesentir depois livre dela....eu sou como vc, gosto de me entregar ao que eu sinto e no que eu sinto sempre tem um tantão assim de fé,sobretudo nessa capacidade de superação que nos é sempre peculiar.
Te beijo novamente.
Erikah
Ziris,
ResponderExcluirConheci você, pelo blog da Pipa (A que encanta).
E me foi impossivel entrar aqui, te ler e não sentir meu coração taquicárdico, as mãos suando, e a alma levitando.
Acho que sai do corpo por alguns instantes.
Tanta leveza tem aqui, tanta lindeza, tanto facho de luz.
Viver não precisava doer. Mas eu precisei. Como preciso dizer, que foi assim que gastei as dores todas, uma a uma nas contas daquele tercinho azul de rezar.
Eu preciso comprar o meu tercinho Ziris, pra expulsar de vez qquer dor que queira entrar.
Te sigo, sigo teus sinais de luz.
Deixo meu abraço, deixo meu carinho!
Sil, seu comentário me engrandeceu. Te procurei e não achei, então lá vai... Volte sempre, és bem-vinda, que tenha encontrado seu tercinho azul de rezar, que deles brotem paixões e compaixões...
ResponderExcluirabraço apertado